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O que se sabe sobre os temporais recentes, como os que atingiram Rio e SP, e o aquecimento global

ByNewsDourados

fev 8, 2023

Eventos extremos do tipo estão ficando cada vez mais frequentes, mas será que podemos cravar uma relação direta desses fenômenos com a crise do clima?

Por Roberto Peixoto, g1

08/02/2023 12h01  Atualizado há 19 minutos

Nesta terça-feira (7), em apenas quatro horas, choveu em todo o Rio de Janeiro 70% do esperado para todo o mês.

Já na cidade de São Paulo, em três horas, choveu o previsto para 10 dias. Nos dois estados, os temporais causaram alagamentos, deslizamentos, deixaram bairros cobertos de lama e vitimaram um jovem de 24, em SP, e uma criança de 2 anos, no Rio.

Mas será que esses eventos são culpa do aquecimento global? Veja abaixo alguns pontos que ajudam a explicar o assunto.

O que causou o temporal no Rio e em São Paulo

Fábio Luengo, meteorologista da Climatempo, explica que os temporais que causaram deslizamentos e alagamentos foram resultado da atuação de um cavado meteorológico, uma área de instabilidade que tem como principal característica provocar uma chuva muito forte em pouco tempo e de maneira isolada, justamente como a que ocorreu ontem.

“Lógico, ontem foi um caso à parte porque tivemos a influência desse cavado tanto em São Paulo como no Rio, mas essa área de instabilidade foi muito maior”, explica.

Como explicou o g1, apesar do nome pouco conhecido do público em geral, os cavados são eventos comuns na meteorologia que ocorrem ao longo de vários meses do ano. O nome técnico faz referência a uma condição de ventos que favorece a formação de chuvas intensas.

Chuva nesta terça-feira (7) perto da rodoviária de Cabo Frio, no RJ — Foto: Rodrigo Marinho/g1

Chuva nesta terça-feira (7) perto da rodoviária de Cabo Frio, no RJ — Foto: Rodrigo Marinho/g1

Dependendo das condições de umidade e de temperatura, a passagem de um cavado por causar muita instabilidade e chuvas fortes. Em regiões onde há essa condição de ventos, é comum ocorrer concentração de calor e de umidade, podendo até mesmo ocasionar mais chuva do que a passagem de uma frente fria.

No caso das chuvas da última segunda, Luengo explica que foi justamente essa combinação que aconteceu.

“Esse cavado é uma área de instabilidade muito forte. Mas não adianta a gente ter só a instabilidade e a umidade, por exemplo. O calor é que reforça essa instabilidade, formando as nuvens de chuva. Então o que causou essas chuvas fortes foi a combinação do cavado, calor e umidade”, afirma o meteorologista.

Janeiro de extremos

As chuvas intensas e as temperaturas elevadas marcaram janeiro deste ano.

Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), nos estados do Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Acre, São Paulo, Goiás e Amazonas, os acumulados de chuva ultrapassaram a média histórica.

De acordo com o instituto, os acumulados foram causados, principalmente, devido a presença de um canal de umidade que favoreceu a formação de áreas de instabilidade e chuvas expressivas nessas regiões.

Outro fator determinante para os eventos climáticos, segundo o Inmet, foi a formação da Zona de Convergência do Atlântico Sul, que contribuiu para a ocorrência de extremos nas diferentes regiões do Brasil.

No mês, foram observados dois episódios de ZCAS: o primeiro entre os dias 5 e 9/01 e o último entre os dias 25/01 e 27/01.

Além disso, o mês de janeiro foi também marcado por temperaturas elevadas que causaram uma onda de calor na Região Sul, especialmente no Rio Grande do Sul, que persiste até agora.

No estado, a mais intensa onda de calor nesse mês ocorreu entre os dias 23 e 28/01. No dia 25, por exemplo, as máximas ficaram, em média, 7°C acima da média no Rio Grande do Sul, quando os termômetros de diversas cidades do estado registraram temperaturas próximas dos 40ºC.

O meteorologista do Climatempo explica que não dá para cravar uma influência direta aquecimento global nesses episódios recentes, visto que estudos aprofundados precisam ser feitos para isso, mas ressalta que há um concenso na comunidade científica de que a crise climática aumenta eventos extremos do tipo.

“Os extremos estão ficando mais frequentes. Tanto de seca como de chuva, e ontem vimos esse extremo de chuva. Lógico, isso já aconteceu uma vez ou outra, mas é algo que está ficando cada vez mais frequente”.

— Fábio Luengo, meteorologista da Climatempo.

Aquecimento global e eventos extremos

Se é difícil quantificar uma relação de causa e efeito direta, um ponto importante que precisa ser levado em conta é que os eventos extremos estão sendo “potencializados pelas mudanças climáticas” e isso é inquestionável, segundo cientistas e especialistas de todo o mundo, incluindo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês).

Uma analogia feita pelo pesquisador Carlos Rittl pode ser uma maneira de explicar a questão: segundo ele, tentar negar o aquecimento global usando o argumento incorreto de que os “eventos extremos sempre aconteceram” é como pegar um paciente com câncer de pulmão que fumou a vida toda e dizer que “os tumores sempre existiram”.

“Há condições locais? Por exemplo, cidades com zonas muito urbanizadas e ilhas de calor, quando você tem calor extremo, é lógico que favorece. Mas vem o aquecimento global com mais uma camada e torna aquela situação ainda pior, quando você tem regiões do planeta com sensação térmica acima de 50 graus, temperaturas chegando a 55 graus célsius, coisas que nunca foram observadas antes”, explicou Rittl ao g1.

E faz tempo que o IPCC alerta que os eventos extremos estão cada vez mais frequentes e expondo milhões de pessoas à insegurança alimentar e hídrica.

“Então, não dá para a gente dizer que o aquecimento global causou o evento climática de ontem, mas podemos sim afirmar que ele o influenciou, assim como vem influenciando o mundo todo”, destaca Luengo.

Como o aquecimento global tem efeitos diferentes no mundo, causando secas em alguns lugares, cheias em outros, buscar ferramentas e soluções para reduzir nossa fragilidade frente à crise climática é uma das soluções.

Na prática, isso diz respeito as respostas efetivas a esses problemas, como por exemplo, projetos de barragens marítimas para conter o aumento do nível do mar, ações de preparo para uma temporada de uma temporada de chuvas mais intensa, etc.

Previsão para os próximos dias

A previsão do Inmet até a próxima semana é de grandes volumes de chuva em áreas das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste.

Nas demais regiões, o calor e alta umidade vão contribuir para a ocorrência de pancadas de chuva. Já em áreas de Roraima e no interior das regiões Nordeste e Sul, a previsão é de pouca chuva, com predomínio de tempo seco na maioria dos dias.

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