Está sendo velada nesta manhã (28) o corpo da menina de dois anos que foi assassinada pela própria mãe e pelo padrasto, em Campo Grande, em decorrência de uma série de agressões e maus-tratos. O crime aconteceu na quinta-feira (26) e foi descoberto pela equipe médica da Unidade de Pronto atendimento (UPA) do bairro Coronel Antonino, quando a vítima foi levada para tratamento médico, porém, já chegou morta ao local.
Além de familiares e amigos, muitas pessoas que se comoveram com a história também estão acompanhando a despedida no Cemitério Jardim das Palmeiras, no bairro Jardim Seminário. O pai biológico da menina não quis falar com a imprensa até agora e está muito abalado ao lado do caixão, ao lado do companheiro. Os dois tentaram, por mais de uma vez, assumir a guarda da criança, mas a Justiça não autorizou e nem mesmo reconheceu a denúncia de maus-tratos registrada por eles contra a ex-esposa e o atual marido dela.
Em vídeos compartilhados pelos familiares nas redes sociais, é possível ver que a menina era sorridente, alegre e muito carinhosa para com todos ao seu redor. Inocente, em uma das mídias disponibilizadas é possível ver que ela confessa ter ‘apanhado’ do padrasto, apesar disso, estava feliz ao conversar com a sua bisavó pelo telefone. Vizinhos disseram à imprensa que a rotina da casa era de muito choro, gritos e barulhos de chineladas diariamente.
O avô da menina e pai da mãe dela, de 45 anos, está no velório e contou aos jornalistas que vive um luto duplo. “Perdi a minha neta, minha grande alegria, e também perdi a minha filha, pois o que ela fez não tem perdão. Ela morreu para mim”, revelou emocionado, acrescentando que está sem acreditar no fato até agora.
Outras pessoas ouvidas dizem que o sentimento não é apenas de luto, mas de Justiça. O casal responsável pelo assassinato deve passasr por audiência de custódia ainda neste sábado e saber se terão a liberdade concedida ou se serão transferidos para algum presídio para aguardar a conclusão do inquérito.
Ainda ontem (27), policiais da Depca (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente), juntamente com a Polícia Científica, estiveram na residência do casal, no bairro Vila Nasser, em Campo Grande, onde ficaram por cerca de duas horas realizando a perícia e recolhendo objetos que podem ser usados como prova das agressões e maus-tratos relatados pelo pai biológico da vítima, além de outras testemunhas, como familiares e vizinhos.
Entre os objetos apreendidos está um HD, a investigação apura a possibilidade do padrasto ter estuprado a enteada ou até mesmo ter produzido vídeos dela para compartilhar na internet. Além dos três, outras duas crianças, sendo uma de cinco anos que é filho somente dele, e um recém-nascido de seis meses filho do casal, também moravam na casa. As crianças ficavam sempre com o homem durante o dia enquanto que a mãe saia para trabalhar.
Casal pretendia mentir sobre as lesões na menina
Antes de serem presos pelo assassinato da menina, a mãe e o padrasto combinaram uma justificativa para os sinais de violência evidentes em todo o corpo da vítima. O casal pretendia dizer que a criança havia caído de um brinquedo alto dentro de um playground, entretanto, os próprios médicos e enfermeiros, ao constatar o óbito, evidenciaram que as marcas não eram de uma simples queda, mas decorrente de agressões físicas de longa data.
A delegada Anne Karine Sanches Trevizan, títular da DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente) e responsável pelo caso, disse em coletiva de imprensa que tanto o padrasto quanto a mãe da criança não demonstraram arrependimento e foram muito frios ao responderem e confessarem as agressões praticadas contra a vítima ao longo dos últimos meses. O Conselho Tutelar e a própria delegacia já haviam investigado o casal e o caso levado à Justiça em 2022.
O histórico na Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) aponta que foram mais de 30 vezes que a menina esteve em atendimento médico em diferentes unidades de saúde da cidade em decorrência de lesões e ferimentos provocados pela violência do casal, em especial do seu padrasto, que chegou até mesmo a celebrar quando a morte da enteada aconteceu, segundo disseram os vizinhos. Em uma dessas vezes em que foi buscar pelo médico no posto, a criança tinha fraturado a tíbia.
A mãe disse, na sua versão, que o marido tinha o costume de bater na filha, mas como forma de correção e que permitia isso. Ainda segundo ela, a filha estava passando mal desde a noite de quarta-feira (25), reclamando de dores na barriga e que demorou para procurar por ajuda médica por orientação dele, que a recomendou esperar a criança melhorar. Quando decidiu levar à Unidade de Pronto Atendmento (UPA), a menina já estava morta.
A polícia apontou também que o padrasto tem o perfil de uma pessoa violenta, inclusive, com histórico e denuncias de violência doméstica feito pela sua ex-esposa. Os vizinhos da família disseram à imprensa que era muito comum ver todas as crianças chorando diariamente, além de gritos de broncas e barulhos de chineladas, entretanto, jamais acreditaram que fosse algo tão terrível ao ponto do que está sendo revelado agora.
A delegada detalhou na coletiva que o pai biológico da menina estava tentando a guarda, além disso, ele mesmo chegou a fazer duas denúncias contra o padrasto por violência e maus-tratos ao ver, por mais de uma vez, lesões no corpo da menina. O primeiro registro feito foi no dia 31 de dezembro de 2021, quando encontrou hematomas e indagou a ex-esposa que alegou que a menina tinha sido arranhada por um gato ou que então que tinha caído ao brincar com os irmãos.
No dia 21 de novembro de 2022 o pai voltou a procurar a DEPCA, na oportunidade, a criança quebrou a perna sob a justificativa da mãe de que tinha caído dentro do banheiro. Neste caso, a criança chegou a ser ouvida por psicólogos na delegacia e foi pedido exame de corpo de delito. Tudo isso foi parar na Justiça, mas o processo não avançou até então.
O pai da vítima, que atualmente é casado com outro homem, disse que o padrasto não gostava dele por conta do seu relacionamento e que a ex-esposa, com quem foi casado durante três anos e há um estava separado, também não permitia que ele ficasse com a guarda da filha por preconceito. A própria visita só foi possível depois que entrou na Justiça.
O padrasto e a mãe estão presos e aguardam pela audiência de custódia para saber se serão encaminhados para presídios ou se poderão aguarda a conclusão do inquérito em liberdade. Quanto à investigação, a delegada informou que aguarda pela confirmação da causa da morte, que será apontada pelos exames do Imol (Instituto de Medicina e Odontologia Legal).
O caso
Padrasto e mãe, 25 e 24 anos, foram presos em flagrante, na noite de quinta-feira (26) pelo crime de homicídio qualificado por motivo fútil acusados de espancar e matar a filha, de apenas dois anos e sete meses de idade, em Campo Grande. A criança deu entrada, morta, na Unidade de Pronto Atendimento do Bairro Coronel Antonino.
De acordo boletim de ocorrência, a menina foi levada ao posto de saúde pela mãe com várias lesões pelo corpo, mais precisamente, nas costas, no braço, joelho, olho e também um inchaço ao ombro esquerdo, além de estar com abdômen inchado. As médicas plantonistas fizeram o atendimento e constataram que a criança já estava sem vida, inclusive com início de rigidez cadavérica, calculando que a morte poderia ter ocorrido a cerca de quatro horas antes.
Diante do caso, a polícia foi acionada, sendo informado ainda pelas médicas que estranharam a calma e tranquilidade da mãe, após receber a notícia do óbito da filha. “Apenas veio a demonstrar nervosismo, quando informada que seria acionada a polícia”, relatou uma das médicas.
Ainda de acordo com registro policial, a mãe negou em primeiro momento as agressões, mas depois mudou a versão passando a contar que trabalhava o dia todo e que seu marido, cadastro da criança, cuidava da menina e que ele dava tapas e socos para “corrigi-la”. Ao final, também, a mulher acabou confessando que batia na própria filha.
Em diligência, no endereço do casal, na Vila Nasser, o homem foi preso. Ele relatou que havia agredido fisicamente a menina há cerca de três dias atrás.
O delegado Pedro Henrique Pillar Cunha, plantonista da Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário (Depac) Centro, disse que a suspeita de abuso sexual foi, preliminarmente, descartada pela polícia, porém o casal, foi autuado pelo crime de homicídio qualificado por motivo fútil. A polícia solicitou a prisão preventiva do casal.
Fonte: Enfoque MS