PT volta a crescer no Sul e Sudeste com Lula, após partido perder votos em eleições passadas
Principal mudança ocorreu entre 2002 e 2006. Desde então, partido vinha apresentando bom desempenho nos municípios do Norte e Nordeste. Agora, legenda melhorou votação no Sul e Sudeste comparado a 2018.
Duas décadas de eleições presidenciais mostram uma mudança seguida de uma maior estabilidade na distribuição dos votos recebidos pelos candidatos do PT nos mais de 5,5 mil municípios do país.
Mapas eleitorais produzidos pelo g1 com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) referentes ao primeiro turno das disputas indicam que, entre 2002, quando Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito pela primeira vez, e este ano, a votação do PT passou de um modelo mais disperso de votos para um mais concentrado em municípios do Norte e Nordeste do Brasil.
Com mais de 57 milhões de votos conquistados este ano, a votação do presidente Lula voltou a expressar força nesses municípios, mas agora também com a retomada em grandes centros do Sudeste e em cidades importantes do Sul e Centro-Oeste.
A mudança mais nítida no padrão de votação do PT aconteceu em 2006, quando Lula obteve 46,6 milhões no 1º turno, ficando com 48,6% dos votos. Ao contrário de 2002, quando os percentuais de votação petista foram mais uniformemente distribuídos pelo país, 2006 mostrou um mapa de votação mais concentrado em municípios do Norte e Nordeste, além de parte de cidades do Sudeste.
Em 2002, o maior percentual de votos para Lula foi registrado em Lindóia do Sul, em Santa Catarina, com 79,7%. Já a sua pior votação foi em Pires Ferreira, no Ceará, onde obteve apenas 5,7%.
Quatro anos depois, a maior votação do petista foi em Manaquiri, no Amazonas, com 93%. Em 2006, Lula apresentou votações mais baixa no Sul e Centro-Oeste. Na cidade de São Paulo, o desempenho também caiu: em 2002, Lula tinha recebido 42% dos votos, mas, em 2006, chegou a 35,7%. Em Porto Alegre, o petista recebeu 46% dos votos em 2002, mas recuou para 29,7% em 2006.
Em 2010 e 2014, padrão se manteve
Em 2010, já com Dilma Rousseff como candidata do partido, a distribuição voltou a ficar próximo de 2006, mas com mais municípios com baixa votação no Sudeste, sobretudo no interior de São Paulo. Dilma teve a sua melhor votação em Calumbi (94,8%), em Pernambuco. O pior desempenho da petista foi em Rio Branco, no Acre (15,8%). Em São Paulo, ele obteve 38,1% dos votos, levemente acima do registrado por Lula, em 2006.
O mapa de 2014 apresenta cores mais intensas de votação proporcional para Dilma nas regiões Norte e Nordeste. Nos municípios do extremo Sul e no norte de Minas Gerais, a petista voltou a ter boa votação. Seu melhor desempenho foi em Belágua, no Maranhão, com 92%. A pior derrota da petista naquele ano foi em Saltinho, em São Paulo, com apenas 10,2% dos votos.
Lula melhora desempenho de 2018
Com Fernando Haddad como o candidato do PT, o primeiro turno de 2018 mostrou que a tarefa do petista não seria fácil. A distribuição dos votos foi menos intensa nas cidades do Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Como nas eleições passadas, o candidato do PT voltou a ter votação expressiva nas cidades do Norte e Nordeste, mas com perdas no Ceará, estado do então candidato Ciro Gomes.
O primeiro turno de 2022 mostra que Lula conseguiu recuperar municípios que votavam com o PT em outras eleições. O mapa da distribuição dos percentuais de votação indica que o petista repetiu o desempenho nas cidades Norte e Nordeste. No Sul, Centro-Oeste e Sudeste, o mapa registra votações mais intensas quando comparadas a 2018.
Mesmo na região Centro-Oeste, Lula conseguiu melhorar o desempenho do partido. A melhor votação proporcional de Lula foi em Guaribas, no Piauí, onde recebeu 92% dos votos neste primeiro turno. Em Nova Pádua, no Rio Grande do Sul, o petista teve o seu pior desempenho: 10,3%.
Em Cuiabá, no Mato Grosso, um estado voltado para o agronegócio, Lula obteve 36% dos votos, muito abaixo dos 49% registrados em 2002, mas superior aos 21,1% conquistados por Haddad em 2018. Em Campo Grande, outra importante cidade do Centro-Oeste, Lula também avançou. Haddad havia recebido apenas 15,6%. Desta vez, o ex-presidente teve 34,5%, percentual mais próximo de 2002, quando foi o escolhido por 39,2% dos eleitores e Campo Grande.
O mapa com a comparação da votação de Lula e Haddad no primeiro turno revela que o ex-presidente teve votação superior ao colega de legenda em quase todos os municípios do país, com destaque para o estado do Ceará, o extremo Sul do país e o Sudeste. Em apenas 133 municípios, Haddad teve desempenho melhor que Lula.
Embora seja uma distribuição de votos ainda distante de 2002, o petista ensaia uma retomada de municípios que abandonaram o partido após o seu primeiro mandato ou que vinham apresentando maior resistência nas últimas eleições, como em cidades do Sudeste.
Na capital paulista, por exemplo, Lula ficou com 47,54% dos votos contra 19,7% de Haddad em 2018. No Rio de Janeiro, Lula venceu com 43,47% dos votos contra 12% obtidos por Haddad há quatro anos. Em Porto Alegre, Lula obteve 49,8% dos votos, quase 30 pontos percentuais acima do desempenho de Haddad em 2018.
A maior diferença de Lula sobre a votação de Haddad ocorreu no Sudeste: 23 pontos a mais, seguido dos municípios do Sul: 17 pontos percentuais.
Na avaliação do cientista político e professor da PUC-MG Malco Camargos, a força do partido chama atenção em razão das grandes diferenças regionais do país.
“Em um país tão diverso e desigual, impressiona a constância do PT ao longo do tempo. Os mapas mostram que o PT, com pouquíssimas variações, tem um certo padrão. As variações se dão principalmente em parte das regiões Norte e Centro-Oeste, onde o partido começa forte e vai perdendo força com o passar do tempo, provavelmente com o avanço do agronegócio, a destruição do meio ambiente e a mudança da cultura econômica da região.”
Camargos destaca a concentração de votos do PT na Região Nordeste e seu efeito no saldo geral das votações do PT.
“O Nordeste continua sendo o bastião de força do partido, que faz com que toda a diferença que os seus opositores conseguem no Sul seja compensada nos estados nordestinos.”
Fonte: G1