“Foi para acertar e eu entrei na frente”, diz filho que viu mãe ser morta por ex
“Ele foi para acertar ela e eu entrei na frente, foi quando me acertou outra facada”. A cena foi descrita pelo militar, de 25 anos, filho de Geni da Costa Reis dos Santos, 56 anos, morta a golpes de faca pelo ex-marido na noite de sexta-feira, 23 de setembro. Os dois filhos de Geni ainda se recuperam das feridas causadas na tentativa de defender a mãe e driblam a saudade permanente que ela deixou.
O filho recebeu alta na segunda-feira passada e ainda está acamado, de cadeira de rodas, sendo cuidado pelo pai, que veio de Curitiba, e a esposa. “Uma das facadas atingiu perto da medula e minha perna não está respondendo aos comandos, mas o médico disse que é reversível”, conta. A irmã dele, que está grávida e também foi esfaqueada, ainda está em observação na Santa Casa.
Na mesma casa onde ocorreu o crime, na Rua Verdes Mares, em Campo Grande, o filho atendeu a reportagem do Campo Grande News na manhã desta sexta-feira (30). Ao apontar os locais e descrever os momentos que antecederam à morte da mãe, o filho se emocionou. “Estou tentando entender o que deu nesse homem ainda”.
Militar está acamado e recebe apoio do pai.
Segundo o militar, o fim do casamento entre a mãe Geni e Silço Donizeti Mendes Barboza, 56 anos, foi aparentemente tranquilo. Ele conta que um dia antes ao crime soube que a mãe foi vítima de violência. “Na quinta-feira fui com ela na delegacia da mulher para pedir medida protetiva, porque o Silço trancou minha mãe dentro de casa, pegou um pedaço de ferro e disse que ia bater na cabeça dela”, lembra.
Decidida pelo fim do relacionamento, Geni estava morando com o filho. “Na sexta-feira ele ficou ligando aqui, procurando ela e então eu disse ‘ela não quer falar com você, ela saiu’. Minha mãe já estava se afastando para não ter mais contato”, conta. Até então, segundo o filho, tudo estava correndo bem. “Ele falou para cada um seguir sua vida e que poderia buscar as coisas”.
Dia do crime – O filho chamou um vizinho para ajudar a buscar as roupas de Geni. “Minha mãe falou que a única coisa que queria era a máquina de lavar que ele tinha dado de presente para ela de Dia das Mães, peguei e trouxe”.
Mais tarde, o filho retornou para buscar outros pertences. “Na volta, encontrei o Silço na esquina da casa dele. Vi que estava com um cabinho de madeira mais alto na cintura e já avisei para minha mãe que ele estava com uma faca, para chamar a polícia”, lembra. Na ocasião, o militar estava de moto e afirmou ter dado “um perdido” em Silço, mas perdeu o carro dele de vista.
Quando chegou em casa, foi surpreendido pelo ex-padrasto. “Ele veio pela rua de cima, chegou e disse ‘quero falar com sua mãe’. Eu respondi ‘ela não quer falar com você’, desci da moto fechei o portão”, descreve. Na hora que o militar virou de costas, Silço chutou o portão e abriu.
“Me agarrou por trás e eu já segurei a faca. Então ele disse ‘eu vou matar você, sua mãe e todo mundo que aí ela vai sair para fora’. O Silço me puxou para o portão grande, porque a porta do carro estava aberta, e queria me jogar dentro, segurando a faca e apontando para mim”.
Nesse momento, a mãe, irmã e a sobrinha saíram ao ouvir chutes no portão. “Ele foi para cima delas, eu entrei na frente e foi quando acertou o primeiro golpe nas minhas costas”, descreve. Depois, o rapaz empurrou a irmã e a sobrinha de sete anos para não serem feridas. “Ele foi para furar elas, ia esfaquear a barriga da minha irmã, foi quando eu empurrei e minha irmã falou para a minha sobrinha correr”.
Contudo, a irmã já estava ferida e Silço seguiu para atingir Geni novamente. “Foi para dar outra na minha mãe, eu entrei na frente e me acertou de novo. Eu cai e ele veio para cima de mim, mas minha mãe puxou ele por trás e o Silço caiu por cima dela”. Foi nesse momento que o ex desferiu vários golpes em Geni.
Em seguida, com os barulhos, os vizinhos começaram a aparecer e Silço fugiu. “Ele falou que ia matar todo mundo que a gente amava”.
Agora, o filho tenta se recuperar fisicamente e fica com as boas lembranças da mãe. “Eu estava em Campo Grande por causa dela, porque minha família é de Curitiba. Minha mãe era companheira, eu que fazia tudo para ela e também não tinha hora para ela me ajudar”. O rapaz lamenta que Silço tenha tirado a própria vida. “Nunca fiz mal para ele, sempre ajudando. Tinha que ter ficado vivo, sofrendo um pouco na cadeia”, finaliza.
Fonte: CAMPO GRANDE NEWS