Egonu explode a 112km/h e tenta levar Itália ao título mundial
Aos 23 anos, italiana é alçada ao posto de fenômeno e melhor atacante do mundo. Neste Mundial, tenta tirar seleção da fila com números expressivos e bandeiras contra racismo e homofobia
Os números ganham ainda mais potência diante da idade. Os 23 anos de Paola Egonu sugerem um longo caminho até o topo. Talvez, porém, não seja bem assim. Nas últimas temporadas, a oposta italiana se consolidou como a principal atacante da atualidade. É referência e principal arma da Itália em busca do título no Mundial de vôlei feminino, que terá início na próxima sexta-feira, na Holanda e na Polônia.
A Itália está no grupo A da competição, ao lado de Holanda, Bélgica, Porto Rico, Camarões e Quênia. A estreia será contra as camaronesas, no sábado, às 10h (horário de Brasília). As quatro primeiras seleções se classificam para a segunda fase. O sportv2 transmite o Mundial de vôlei feminino ao vivo, com cobertura completa do ge.
Nos últimos anos, Egonu se elevou à condição de fenômeno. Em quadra, sempre muito procurada, repete seus movimentos à exaustão. Seus voos verticais a transformaram, para muitos, na melhor jogadora de vôlei da atualidade – Gabi, do Brasil, é a outra concorrente. Campeã e MVP da última Liga das Nações, superou a decepção pelo vice no último Mundial e pela campanha instável nas Olimpíadas de Tóquio, quando caiu nas quartas de final. No Mundial deste ano, tenta levar a Itália ao seu segundo título mundial – o país foi campeão em 2002.
O título da Liga das Nações foi o primeiro em nível mundial com a seleção italiana – antes, em 2021, havia levado o time ao topo do Campeonato Europeu. Foi na Liga, também, que Paola Egonu estabeleceu o novo recorde mundial de ataque. Na final, contra o Brasil, chegou a 112,7 km/h (veja no vídeo abaixo). Com uma impulsão que atinge 3,44m, é dona dos números mais impressionantes do vôlei mundial.
Paola Egonu, da Itália, marca ponto e bate o recorde mundial de velocidade no vôlei feminino: 112,7 km/h
Raízes africanas
Egonu tem a pele negra como a de seus pais, nigerianos. O pai, caminhoneiro, e a mãe, enfermeira, foram para a Itália em 1992. Lá, criaram uma família ao lado dos três filhos – além de Paola, uma outra menina e um menino. Desde pequena, Egonu se acostumou a encarar olhares por conta de sua cor. Em quadra, quando ainda tinha 16 anos e atuava pelo Treviso, viu a torcida rival imitar o som de macacos a cada vez que tocava na bola.
Naquele dia, ainda tão jovem, abaixou a cabeça e chorou, sem reagir. Aos poucos, ao se firmar como uma das melhores do mundo, fez do combate ao racismo uma de suas bandeiras. A outra foi fincada após estampar os jornais italianos. Em 2018, depois de um jogo pela Supercopa, beijou a polonesa Katarzyna Skorupa, sua namorada à época. O primeiro gesto de carinho público a fez, novamente, alvo de preconceito. Desta vez, por sua sexualidade.
O namoro com Katarzyna chegou ao fim em 2020. Egonu diz não ser lésbica. Assumiu, porém, o combate à homofobia da mesma forma que passou a bater de frente com os ataques racistas que encara até hoje.
– Sou diferente porque sou negra e penso. O ódio de homofóbicos e racistas me dói. Porque sou diferente. Pela cor da pele, que é a primeira coisa que você nota. Pela minha maneira de pensar e como lido com certas questões. Sei que há muitas meninas que estão na mesma situação que eu e se sentem sozinhas, não veem essa luz e nunca dão o primeiro passo. Eu me pergunto onde começa este ódio. Nós nos dividimos por raças e não procuramos compreender o outro. Eu sou uma pessoa muito emotiva e isso dói – afirmou, em entrevista ao jornal “Corriere della Sera” antes das Olimpíadas de Tóquio, no ano passado.
Luto para ajudar como gostaria, mas estou com todos eles espiritualmente. Não entendo por que um ser humano deve criar dor para outro
— Paola Egonu
– Não sou (homossexual). Admiti amar uma mulher (e volto a repetir, nunca me arrependi) e tudo para dizerem: “Olha, Egonu é lésbica”. Não, não funciona assim. Eu me apaixonei por uma menina, mas isso não significa que não pudesse me apaixonar por um menino ou outra mulher. Não tenho nada a esconder, mas basicamente é problema meu. O que interessa é se jogo bem voleibol, não com quem durmo.
E, em quadra, os números gritam ao seu favor. Egonu fez sua estreia olímpica nos Jogos do Rio, em 2016. À época, aos 17 anos, já era o grande nome de uma seleção promissora. Dois anos depois, levou a Itália ao vice-campeonato mundial, perdendo para a Sérvia na decisão. Neste ano, movimentou o mundo do vôlei ao anunciar a transferência do Conegliano para o Vakifbank. Duas maiores potências das quadra da atualidade, os times dominaram o cenário de clubes dos últimos tempos. Agora, Egonu se junta a Gabi, que levou a melhor na última Champions League.
As marcas, de tão impressionantes, a levaram à lista da revista “Forbes” de pessoas com menos de 30 anos mais influentes da Europa no ano passado. Egonu chegou, inclusive, a ser considerada para o posto de porta-bandeira da Itália nas Olimpíadas de Tóquio – o ciclista Elia Viviani e a atiradora Jessica Rossi foram os escolhidos.
Egonu, da Itália, é um dos destaques do Mundial de Vôlei feminino
Egonu liderou uma revolução do vôlei italiano nos últimos anos. Começou a ensaiar seus primeiros passos dentro de quadra na equipe de Galliera, cidade próxima a Citadella, onde nasceu. Profissionalmente, começou no Club Italia, equipe formada apenas por jovens promessas do país. Brilhou no Novara e foi contratada pelo Conegliano, onde ganhou quase tudo o que disputou.
Já no fim do ciclo olímpico para os Jogos Rio, antigas referências, como Francesca Piccinini, deram lugar a promessas como Egonu, acelerando o processo de renovação. Deu certo. Hoje, a Itália chega ao Mundial como uma das favoritas ao pódio, ao lado de Estados Unidos, Sérvia e Brasil.
Fonte: G1