Veja o que é #FATO ou #FAKE nas falas dos presidenciáveis no 1º debate
Seis candidatos participaram do debate: Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Lula (PT), Simone Tebet (MDB), Felipe d’Avila (Novo) e Soraya Thronicke (União).
Seis candidatos à Presidência da República participaram neste domingo (28) do primeiro debate das eleições de 2022, organizado pelo grupo Bandeirantes, Folha de S.Paulo, Uol e TV Cultura.
Estiveram presentes Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Lula (PT), Simone Tebet (MDB), Felipe d’Avila (Novo) e Soraya Thronicke (União).
A equipe do Fato ou Fake checou as principais declarações dos políticos. Leia:
Jair Bolsonaro (PL)
“Assumi a Presidência e escolhi meus ministros pelos critérios técnicos, sem ingerência política.”
#NÃOÉBEMASSIM. Veja por quê: Bolsonaro, assim que tomou posse, colocou em ministérios nomes ligados às áreas de atuação, como um engenheiro civil na Infraestrutura, um médico na Saúde, um diplomata de carreira nas Relações Exteriores, um juiz na Justiça e um astronauta na Ciência e Tecnologia, além de um general quatro estrelas na Defesa. Para a pasta do Turismo, porém, escolheu um deputado que, durante o mandato na Câmara, jamais fez qualquer proposição ligada à área do turismo.
Nos dois últimos anos, o presidente passou a adotar critérios políticos nas nomeações e houve a negociação aberta de cargos em troca de apoio no Congresso. Bolsonaro acabou cedendo ao Centrão e recriando a pasta das Comunicações, capitaneada pelo deputado Fábio Faria. O empresário e músico Gilson Machado foi nomeado o novo ministro do Turismo em 2020, durante uma negociação de apoio na eleição para a presidência da Câmara. E a deputada federal Flávia Arruda (PL-DF) foi colocada na Secretaria de Governo em 2021, em mais um aceno ao Centrão. Em seguida, o senador Ciro Nogueira assumiu a Casa Civil, consolidando a influência do Centrão no primeiro escalão do governo. No fim de março de 2022, parte desses ministros deixou a pasta para concorrer cargos eletivos.
“O respeito não falta da minha parte [em relação ao STF].”
A declaração é #FAKE. Veja por quê: O presidente Jair Bolsonaro foi desrespeitoso com ministros do Supremo Tribunal Federal em diversas ocasiões. Em julho de 2021, Bolsonaro chamou o ministro Luis Roberto Barroso de idiota e imbecil: “Só um idiota para fazer isso aí. É um imbecil. Não pode um homem querer decidir o futuro do Brasil na fraude.”
No mês seguinte, em agosto, Barroso foi chamado de “filho da puta” por Bolsonaro, em Joinville. “Aquele filho da puta (…) está atrás de mim. Aquele filho da puta do Barroso.”
Em setembro de 2021, durante as manifestações do dia 7, o presidente chamou Moraes de “canalha”: “Sai, Alexandre de Moraes, deixe de ser canalha, deixe de oprimir o povo brasileiro.”
“Agora, mesmo assim, a inflação do Brasil é uma das menores do mundo, menor até do que nos Estados Unidos.”
#NÃOÉBEMASSIM. Veja por quê: Em julho, o Brasil registrou deflação de 0,68% segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Apesar de ter tido o primeiro registro de inflação negativa em 25 meses seguidos de alta de preços, a inflação acumulada nos últimos 12 meses no país ainda é de 10,07%.
De fato, o Brasil registra uma inflação em 2022 menor que a dos Estados Unidos até o momento (4,8% contra 5,3%, respectivamente). Todavia, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos tiveram uma inflação média acumulada em torno de 14,5% entre o início de 2019 (quando começou o governo Bolsonaro) até a metade deste ano. Já no Brasil, a cesta média de consumo das famílias aumentou 25,7%.
No começo do mês passado, relatório da OCDE também apontou que a inflação no Brasil em 12 meses (11,7%) era uma das maiores do mundo, acima da média das grandes economias e dos Estados Unidos, país que registrou 8,6% no período. O levantamento considera mais de vinte países e os blocos econômicos G20, G7 e OCDE.
“O PT foi contra os R$ 400 lá atrás.”
A declaração é #FAKE. Veja por quê: O PT votou a favor da MP 1061, que fixou em R$ 400 o valor do Auxílio Brasil.
O texto-base da medida provisória 1.061 de 2021 trata do Auxílio Brasil, programa social do governo federal que substituiu o Bolsa Família. O programa já estava em vigor, mas a medida provisória precisava da aprovação do Congresso para virar lei e vigorar de forma definitiva. Em votação simbólica, o Senado aprovou a mesma MP em dezembro. O projeto de conversão da MP foi sancionado no final do mesmo mês.
“O presidente [Alberto Fernández, da Argentina] visitou Lula na cadeia em Curitiba”
A declaração é #FATO. Veja por quê: Em 4 de julho de 2019, o então candidato à presidência da Argentina Alberto Fernández, companheiro de chapa da ex-presidente Cristina Kirchner, visitou o ex-presidente Lula na sede da Polícia Federal em Curitiba.
“Lá atrás, quando se conseguia um emprego, perdia o Bolsa Família. No meu governo, não perde o Auxílio Brasil.”
#NÃOÉBEMASSIM. Veja por quê: Os beneficiários do Bolsa Família, quando entravam no mercado de trabalho, não perdiam necessariamente o direito ao benefício. Isso porque o principal critério para permanecer no programa era a renda familiar, mesmo que parte dela decorresse de um emprego. Mas, se esse rendimento do emprego fizesse com que a renda do beneficiário ultrapassasse o limite necessário para que ele continuasse recebendo o benefício, ele podia permanecer no programa até a próxima atualização do Cadastro Único ou por até dois anos. No Auxílio Brasil, a regra é a mesma, com a diferença de que a permanência no programa é pelo período de dois anos após a renda ultrapassar o limite estabelecido. No Bolsa Família, o limite da renda familiar por pessoa era de R$ 178 ao final do programa. No Auxílio Brasil, o limite atual é de R$ 210.
“Os números têm demonstrado que, desde quando eu assumi, o número de mortes violentas, incluída a arma de fogo, obviamente, tem diminuído no Brasil.”
A declaração é #FATO. Veja por quê: Dados do Monitor da Violência, índice nacional de homicídios criado pelo g1 com base em dados oficiais das secretarias de segurança estaduais, mostra que foram 20,1 mil assassinatos nos primeiros seis meses de 2022, o que representa uma queda de 5% em relação ao mesmo período em 2021. Em 2021, o Brasil também teve uma queda de 7% no número de assassinatos: foram 41,1 mil mortes violentas intencionais no país, o menor número de toda a série histórica do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que coleta os dados desde 2007.
Segundo especialistas, o menor número de mortes é motivado por um conjunto de fatores, incluindo: mudanças na dinâmica do mercado de drogas brasileiro; maior controle e influência dos governos sobre os criminosos; apaziguamento de conflitos entre facções; políticas públicas de segurança e sociais; e redução do número de jovens na população.
“Nunca tivemos tanto dinheiro de fora do Brasil investido aqui.”
A declaração é #FAKE. Veja por quê: Segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), o Brasil já teve mais investimento internacional do que no período do governo Bolsonaro. Conforme o Relatório Mundial de Investimentos, que reúne dados de 1990 a 2021, o ano de 2011, no primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT), foi o que acumulou o maior montante de capital de fora aplicado na economia brasileira: US$ 97,4 bilhões. Já entre 2019 e 2021, esse total foi de US$ 65,3 bilhões, US$ 28,3 bilhões e US$ 50,3 bilhões, respectivamente.
Ciro Gomes (PDT)
“Porque o Ceará tem hoje a melhor educação pública do Brasil.”
#NÃOÉBEMASSIM. Veja por quê: Dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) – indicador de qualidade da educação criado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) –, referentes a 2019, mostram que a educação pública do Ceará (federal, estadual e municipal) só apareceu em primeiro lugar nos anos finais do ensino fundamental (9º ano).
Nas outras séries, o estado foi superado por outras unidades da federação. Quando considerada apenas a rede estadual, o Ceará não ficou em primeiro lugar em nenhuma das séries analisadas.
Nos anos finais do ensino fundamental (9 º ano), a rede de educação pública do Ceará aparece na liderança, empatada com São Paulo. Ambos os estados conseguiram uma nota de 5,2. Já nos anos iniciais do ensino fundamental (5º ano), o Ceará ficou em terceiro lugar, com uma nota de 6,3.
“O Brasil tem 3% da população mundial e teve 11% dos mortos na pandemia [de Covid-19].”
A declaração é #FATO. Veja por quê: Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), em 2011, o mundo atingiu a marca de 7 bilhões de pessoas – a previsão é que, em novembro deste ano, o número chegue a 8 bilhões.
A última contagem da população brasileira foi realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010. Naquele ano, os brasileiros formavam um contingente de quase 191 milhões de pessoas.
As projeções do IBGE indicam aumento de 13% nos últimos 12 anos, elevando para 215 milhões o número estimado de habitantes. Portanto, a população do Brasil, de fato, representa aproximadamente 3% da população mundial.
Sobre as mortes por Covid-19 durante a pandemia, o número apresentado por Ciro Gomes também é verdadeiro. O Brasil registrou, neste domingo (29), 20 mortes pela Covid-19 nas últimas 24 horas, totalizando 683.548 desde o início da pandemia. Os dados são do consórcio de veículos de imprensa.
De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), atualizados neste domingo (29), o número acumulado de mortes pela Covid-19 no mundo chegou a 6.459.684. Os óbitos registrados no Brasil correspondem a cerca de 10,5% do total do mundo. Desse modo, é correto dizer que 11 a cada 100 mortos do mundo por Covid são brasileiros.
“60 de cada 100 alunos do ensino médio do Ceará já estão em tempo integral.”
A declaração é #FAKE. Veja por quê: Segundo dados do Censo Escolar elaborado pelo Inep em 2021, a proporção de alunos em tempo integral matriculados na rede pública de ensino médio é de 33,2% no Ceará. Proporcionalmente, o correto é dizer que 30 a cada 100 têm esse tipo de matrícula.
Lula (PT)
“Eu sou daqueles que, quando peguei a educação, eu quintupliquei o orçamento da Educação.”
A declaração é #FAKE. Veja por quê: O orçamento federal para a Educação foi de R$ 14.656.465 em 2002, dos quais R$ 13.222.750 foram executados, segundo o Relatório Resumido de Execução Orçamentária (RREO) do Ministério da Fazenda de dezembro daquele ano. Lula assumiu em 2003 e deixou o governo em 2010, quando o orçamento da Educação foi de R$ 48.496.217, dos quais R$ 38.281.076 foram liquidados, de acordo com o RREO. O aumento, portanto, foi de 230%. Considerando o que foi executado, houve crescimento de 189%.
“Nós vacinamos, em três meses, 83 milhões de pessoas.”
A declaração é #FATO. Veja por quê: Dados do Ministério da Saúde mostram que 88 milhões de pessoas foram vacinadas contra a gripe pandêmica H1N1 entre 8 de março e 2 de junho de 2010. Durante a campanha, foram vacinadas gestantes, doentes crônicos, crianças de 6 meses a menores de 5 anos, adultos entre 20 e 39 anos, indígenas e trabalhadores de serviços de saúde.
“O menor desmatamento da Amazônia foi feito no meu governo.”
A declaração é #FAKE. Veja por quê: O menor desmatamento da série histórica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) foi registrado em 2012, durante o governo Dilma Rousseff. Naquele ano foram desmatados 4.571 km² de floresta. O menor desmatamento registrado durante o governo Lula foi em 2010, último ano do mandato, de 7 mil km².
O sistema SAD do Imazon, que começou a funcionar em 2008, confirma que o menor nível desde então foi registrado em 2012.
“O Brasil rompeu o acordo [ambiental] que tinha com Alemanha e com a Noruega.”
A declaração é #FATO. Veja por quê: Noruega e Alemanha pararam de enviar recursos para o Fundo Amazônia em agosto de 2019 após o governo brasileiro paralisar as atividades do fundo e Ricardo Salles, titular do Ministério do Meio Ambiente, anunciar a intenção de alterar seu funcionamento e destinar recursos para indenizar proprietários de terras. Ele também disse haver indícios de irregularidades.
Os dois países financiadores afirmaram que estavam satisfeitos com o funcionamento do fundo e que nenhuma irregularidade havia sido encontrada. Após as medidas tomadas pelo governo federal, decidiram suspender os pagamentos. Entre 2009 e 2018, o fundo captou R$ 3,4 bilhões em doações, sendo que 93,8% foi repasse norueguês. As demais contribuições vieram da Alemanha (5,7%) e da Petrobras (0,5%).
“Nós fizemos (…) a lei de acesso à informação, a lei anticorrupção, a lei contra crime organizado.”
#NÃOÉBEMASSIM. Veja por quê: As três leis foram criadas durante o governo Dilma Rousseff e não durante a gestão de Lula. O candidato, porém, não deixou claro se estava se referindo apenas aos seus dois mandatos ou aos quatro do PT quando falou sobre a criação das leis. A Lei de Acesso à Informação entrou em vigor em 2011, primeiro ano de Dilma na Presidência da República. As leis anticorrupção e contra o crime organizado também foram sancionadas pela petista, em 2013.
“(Nós fizemos a) lei contra lavagem de dinheiro.”
Fonte: G1